Airton José
Agradeço aos leitores que questionaram a pausa na atualização da coluna. Houve quem entendesse o texto anterior como uma mensagem enigmática. Um recado subliminar. Nada disso! Decidi reproduzir alguns textos que mantenho em meus arquivos. Muitos deles, realmente, têm relação direta com situações cotidianas. Outros, não. Fazem parte do meu imaginário. Hoje, por exemplo, decidi escrever sobre a honra que algumas pessoas trocam pelas honras de cargos ou efêmeras posições sociais. Boa leitura.
Mahatma Gandhi disse uma vez que a dignidade pessoal e a honra não podem ser protegidas por outros. Devem ser zeladas pelo indivíduo em particular. Portanto não é de competência alheia defender aquilo que, a quem lhe cabe, é deixado desguarnecido de respeito.
Honra não é qualidade adubada ao longo da vida. Honra é raiz virtuosa de onde também brota o caráter. Valores enfraquecidos nos dia atuais.
O estadista italiano Francesco Guicciardini gritou, para ser ecoado na história, que queria honra e não honras. No entanto existem aqueles que pelas honras abdicam de proteger a honra. São oportunistas.
Como admitir que agressões contra tais virtudes sejam sepultadas no esquecimento? Não se trata de regredir aos tempos remotos quando a honra era lavada com o sangue do agressor. Porém é necessário dignidade para exigir respeito e respeitar para receber tratamento digno. Sendo respeitoso, digno e honrado não será atacado. Porém se o for, terá direito de reagir.
Entretanto, se sua honra é atacada e enlameada e você não a defende: de nada você vale além de exemplo de covardia e nada mais merece além do julgamento de sua nulidade como pessoa digna.
Decidi, por um tempo, mudar um pouco o estilo. Nos próximos dias publicarei textos diferentes daqueles que tenho utilizado para preencher este espaço. Considero um tempo para oxigenar.
No filme Casablanca, Rick (Humphrey Bogart) é questionado por um espertalhão vendedor de vistos alemão: “Você me despreza, não é?”. A resposta seca foi: “Se eu pensasse em você, certamente, o desprezaria.”
Quantas vezes você desejou ter essa frase pronta.
Quis repetir essas palavras para pessoas que simplesmente não percebem a facilidade que possuem para serem ignoradas. Pessoas que insistem em acreditar que o mundo está preocupado com elas. Não conhecer essa gente não faz qualquer diferença no dia a dia. Não altera o contexto da vida. Mas conhecer pode ser danoso.
Essas pessoas acreditam que são importantes para alguém. Fingem fragilidade. Mas só fingem. Dissimuladas, agem de maneira invasiva. São chantagistas emocionais. Maniqueístas que ao final da tentativa, se o desconhecimento as resguardava, forçando serem conhecidas se tornam, finalmente, pessoas desprezíveis.
Descobertas e rejeitadas, apesar do comportamento exclusivamente pessoal, de alguma maneira responsabilizam alguém. É quando nasce a ira de uma pessoa desprezada. Portanto o melhor é não pensar em algumas pessoas e se pensar que seja em como mantê-las afastadas do seu cotidiano. Sem que elas saibam que é isso o que se pretende. Caso contrário elas perguntarão: “Você me despreza, não é?”
Poderiam questionar se são ignoradas, mas preferem a dúvida sobre o desprezo. Ignoramos aquilo que não conhecemos ou não sabemos. Desprezamos aquilo que é indigno de valores de estima ou de atenção. Em resumo: a pergunta já é um desafio. Prepara-se.