A Política Brasileira: Religião X intolerância


    "Com esse crescimento de fieis, muitos pastores acabam assumindo cargos políticos utilizando sua popularidade para chegar ao poder, muitas vezes para tirar proveito próprio ou para uma pequena parcela de seu eleitorado."

    Há muito tempo se entende que a política e a religião são de âmbitos diferentes e que pode existir harmonia se estes âmbitos não interferirem um no outro. Em Estados laicos, como no caso do Brasil, o governo tem uma posição neutra no campo religioso. Porém, as igrejas evangélicas vêm crescendo, o mesmo acontece com o número de pastores no poder legislativo do Brasil. Com isso, aumentam os ânimos conservadores, que atrapalham a adoção de leis sobre questões que a conduta religiosa considera erradas.


(Foto bandeira do Brasil: Google)

    Segundo o Censo 2000, 15,4% da população brasileira se declarava de evangélicos, já no Censo 2010 esse número aumentou para 22,2%. Com esse crescimento de fieis, muitos pastores acabam assumindo cargos políticos utilizando sua popularidade para chegar ao poder, muitas vezes para tirar proveito próprio ou para uma pequena parcela de seu eleitorado.

    Desde o dia 07 de março, o pastor Marco Feliciano, deputado federal do PSC (Partido Social Cristão) de São Paulo, tornou-se presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM ), envolto em muitos protestos e denúncias de ser homofóbico e racista. Quando publicou em sua conta no Twitter o seguinte comentário: “Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé.” Com isso aumentou ainda mais a insatisfação da sociedade e de muitos políticos, que também estavam incomodados com seu posicionamento frente às questões da sexualidade. 

    Uma Comissão de Direitos Humanos e Minorias deve defender o ser humano -não importando a crença , etnia ou orientação sexual -, porém não é isso que tem acontecido desde que Marco Feliciano começou a presidir a CDHM. Apesar dos diversos protestos feitos contra o pastor, Feliciano ainda solta frases como : "Essa manifestação toda se dá porque, pela primeira vez na história desse Brasil, um pastor cheio de espírito santo conquistou o espaço que até ontem era dominado por Satanás."

Marco Feliciano, envolto em muitos protestos e denúncias de ser homofóbico e racista

     Alguns pastores utilizam sua retórica para induzir seus fieis a ideias e ações que muitas vezes são de acordo com suas convicções. Ações como essa criam pessoas com ideologias preconceituosas aumentando conflitos com pessoas de outras religiões e etnias como as afro-brasileiras por exemplo e de grupos GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros).

    O Brasil é um país de muitas religiões e muitas vezes pode haver divergências por causa disso, porém a intolerância é algo que não deve ser incentivado aos seguidores, afinal o que é certo para um cristão pode não o ser para um muçulmano. O país tem uma grande diversidade nas religiões, políticas, etnias e ideologias, que podem coexistir sem que haja conflitos. Ninguém é senhor da verdade suprema e sempre haverá divergências, porém é preciso que os lados se entendam para chegar a um acordo comum a todos. Qualquer político, independentemente do poder que exerce, deve representar o povo e não somente o seu eleitorado, portanto a sua função é trabalhar por todos e não somente pelas suas ideologias, sejam elas quais forem. “Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder, ” - essa frase de Abraham Lincoln foi dita há mais de um século mas continua atual.



"Uma Comissão de Direitos Humanos e Minorias deve defender o ser humano -não importando a crença , etnia ou orientação sexual -, porém não é isso que tem acontecido desde que Marco Feliciano começou a presidir".  



Jornalista Angélica Scloneski
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