Cigarro no cinema contribui para jovens começarem a fumar


Os comerciais de cigarro foram banidos da mídia e dos outdoors em várias partes do mundo, com o objetivo de evitar o estímulo ao fumo, vício considerado uma das maiores causas de mortalidade humana. O cigarro, que no passado esteve associado à imagem de sensualidade, poder e rebeldia, voltou a estar presente, e de forma cada vez mais freqüente, nas cenas dos filmes contemporâneos. Desde a década de 1950, o cinema não mostrava tantas cenas com atores fumando, o que incentiva adolescentes a dar sua primeira tragada, segundo constatou Madeleine Dalton e seus colegas em artigo publicado na edição de 10 de junho último, no periódico inglês The Lancet.

De acordo com os autores da pesquisa, o fumo nos filmes é responsável por cerca de 52% da iniciação em jovens de 10 a 14 anos, e tem um efeito subliminar mais poderoso que nos comerciais, responsáveis por 34% dos casos.
A pesquisa acompanhou 2.603 jovens norte-americanos que nunca haviam fumado, por um período que variou de 13 a 26 meses, através de análise multifatorial - com informações como série escolar, idade, gênero, pais fumantes, auto-estima, performance na escola, nível escolar dos pais, pais autoritários, sentimentos de revolta - além da exposição a 50 filmes de grande bilheteria ou com a participação de astros populares entre os jovens, lançados entre 1988 e 1999. Os filmes foram classificados em quatro grupos, de acordo com a censura. Em média, os participantes viram 16 filmes, sendo expostos a uma média de 98 cenas com fumo. A exposição aumentou com a idade, em meninos, e conforme as censuras ficavam mais brandas.
Outro resultado obtido pela equipe de Madeleine foi a constatação de que os jovens, cujos pais eram fumantes, tinham menos risco de serem influenciados pelas cenas de cigarro. Esse fato pode estar ligado a uma visão mais realista do fumo e, portanto, o glamour das cenas do cinema teria menos influência sobre os jovens. Mas uma outra hipótese indica que filhos de pais fumantes já estariam sob um forte influência de se iniciarem no vício e, portanto, esse risco não teria chances de ser aumentado.
A pesquisa constatou, também, que 60% das cenas com cigarro estavam concentradas nos filmes livres para menores de idade. No artigo, a equipe sugere uma mudança na política de censura, elevando-a para filmes com essas cenas, na tentativa de amenizar a exposição de crianças à influência do cigarro. Essa atitude não deve prejudicar a indústria cinematográfica, uma vez que o fumo não eleva as vendas de ingressos, ao contrário da violência e sexo, argumenta a pesquisadora. A pesquisa projeta que jovens que presenciam cenas de fumo no cinema têm até três vezes mais probabilidade de dar sua primeira baforada, mesmo que isso não se transforme em um vício.

Germana Barata
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